Para Carlos Gomiero,
Genilda e Douglas
Sobre a Obra
O grupo teatral Alotropia (Francisco Morato / SP) teve uma existência breve, contudo muito prolífica. Desenvolvemos diversos espetáculos teatrais com foco em crianças e adolescentes. O Escritor e a Traça foi nosso primeiro trabalho, cujo texto e direção conduzi a partir de um processo conjunto com Genilda Maria de Jesus dos Santos e Douglas Alberto dos Santos. Juntos apresentamos gratuitamente essa peça para milhares de crianças e jovens, aos finais de semana para o público em geral e semanalmente para alunos da rede pública de ensino, num projeto chamado “Escola em Cena”, dos “Núcleos de Ação Cultural”. que foi um movimento artístico conduzido por Carlos Gomiero por muitos anos naquela região.
É com enorme prazer que disponibilizo esse texto, há nele muito amor, estudo e dedicação. Seu foco é estimular a leitura, introduzir a contação de histórias, destacar a importância do livro e principalmente, contribuir para o despertar do raciocínio criativo a partir da percepção de que a magia se dá de forma muito simples, e a fantasia pode ser uma aliada incrível para trazer sensibilidade, encanto e aventura ao nosso dia a dia.
Elementos e Personagens
- Biombo branco de TNT para utilização de sombras.
- Caixa de “Brinquedos” ou “Armário Mágico” de onde serão retirados objetos.
- Palco de fantoches.
Contador 1 / Contador 2 / Contador 3
(contadores de histórias típicos, sugestão de roupa preta cobrindo o corpo todo com destaque apenas para as mãos e rosto)
Escritora
(a sugestão é que se chame Monteiro ou Ceci, dependendo do elenco. O figurino pode ser composto acrescentando um óculos, um xale colorido (Ceci) ou uma Barba/Bigode (Monteiro), um punhado de livros e uma pena bastante proeminente, todos itens retirados da caixa e a composição sendo feita no palco mesmo)
Traça
(fantoche de cabeça grande e corpo alongado e fino, sem braços ou pernas)
Donzela
(fantoche de cabeça grande, vestido e cabelos destacados)
Príncipe / Sapo
(fantoche de cabeça muito pequena e grande chapéu de cano alto. Quando sapo, muito fofinho e elegante que deverá ter o mesmo chapéu para fortalecer a ligação com o príncipe. A sugestão de interpretação é utilizar um leve sotaque francês)
Bruxa
(fantoche de bruxa típico)
Monstrinho
(fantoche de características humanas, porém com as características exageradas, olhos desproporcionais, boca grande e corpo em formato quadrado ou piramidal, pés e mãos alongadas. Sugestão de utilização de itens recicláveis em destaque, como molas, panela, etc)
Dragão
(fantoche de lagarto cabeçudo, gordinho e com um acessório que pode ser acrescentado depois, as asas, que devem ser "de encaixe" para que sejam adicionadas rápidamente)
INÍCIO
O Contador de histórias e o Livro
Durante a entrada da plateia ouvem-se cantigas infantis, o som é gradualmente reduzido e pode-se ouvir os próprios atores cantarolando uma cantiga popular “Hoje é domingo…” ou “Ah eu entrei na roda, eu não sei como se dança...” e a partir dela o elenco entra e interage com a platéia durante sua execução.
Contador 1: Sabem quem nós somos?, não?... Nós somos contadores...
Contador 2: Contadores de Histórias!
(apresentam-se podendo utilizar os próprios nomes)
Contador 1: Alguém aqui conhece algum contador de histórias? (desenvolve-se jogo) Sabem o que contadores de histórias fazem?
Contador 3: Eu sei! Eu sei, eles contam as histórias (pega a caixa de livros e conta, uma história, duas histórias, três histórias… À platéia o contador 1 pergunta se isso está certo e segue o jogo)
Contador 1: Contadores de histórias são aquelas pessoas que contam causos, contos, e todo tipo de histórias para as pessoas.
Uma História fácil de se contar
Dentro deste jogo inicial deve-se fazer com que as crianças se acostumem com o fato de que vão ouvir histórias e que entendam a simplicidade que há em ser um contador, com esses objetivos atingidos deve-se chamar a atenção para a importância do livro.
Na sequência os contadores exemplificam o papel do contador de histórias, desta forma dá-se início a um conto curto a ser escolhido de acordo com a faixa etária do público – A Lebre e a tartaruga, O Lobo e os Três Cabritinhos, Festa no Céu, etc. Utilizando uma linguagem simples e imaginativa, fazendo uso de recursos do cotidiano retirados da 'caixa mágica' como um pedaço de pano, uma vassoura, um chinelo, etc. Traçam uma relação sobre onde podemos encontrar histórias e no jogo com a platéia é introduzida a história principal.
(aproveitando o mote do momento anterior)
Contador 1: É... O Livro realmente é muitíssimo importante, tanto para quem gosta de ouvir quanto para quem gosta de contar histórias...
Contador 2: Sim, é mesmo, mas eu soube que alguém não pensa assim... Até pelo contrário, este alguém de quem falo acha que os livros só servem para comer...
Contador 1: Comer???? Há é verdade! Vocês sabem quem gosta de comer livros? (inicia-se possível jogo com a platéia dando as descrições do pequeno inseto) Não? É um bichinho bem pequenino, que gosta também de comer as nossas roupas!
Contador 3: Este pequeno inseto chama-se Traça!
(possível jogo, quem já viu uma traça? Vocês sabem como uma traça é? – pode-se utilizar ilustrações para exemplificar).
Contador 2: Pois é, a nossa pequena traça morava em uma biblioteca, a biblioteca de uma escritora chamada Ceci (ou Monteiro)!
(enquanto introduzem a história, vão adequando o ambiente, ressignificando os elementos, compondo os nichos cenográficos, como por exemplo: na lateral do palquinho, a mesa com os livros da escritora pode ser composta a partir do baú ou caixa mágica)
Contador 3: E a escritora estava muito brava, porque todos os dias a Traça comia um pedaço de seus livros.
Um dos contadores pode ir se distanciando até estar oculto, apto a manipular a Traça. enquanto um dos contadores fala, a luz atrás do biombo vai aumentando até se visualizar o perfil da traça, ouve-se a música da entrada da traça, música que se repetirá todas as vezes que a traça estiver para chegar, o contador retira o biombo e sai, entra a traça, frenética.
A Escritora e a Traça
Traça: Poxa vida!
Acordei tão atrasado
que quase perdi a hora
de comer minha comida!
Hoje quero comer um livro bem grandão,
deixa-me ver, deixa-me ver…
A branca de neve? Não…
Os três porquinhos? Não…
Este sim... João e o pé de feijão!
Esta deve ser uma daquelas histórias
de um menininho tonto, tonto,
que está com tanta fome como eu,
ai ele vai ao pé de feijão…
Pega nele um belo grão,
cozinha, come... E Pronto…
Todos estes livros são iguais... Uma chatice…
Eles só servem mesmo
é para alimentar a minha gulodice…
(come e pergunta se a platéia aceita ‘um pedacinho’, se aceitarem diz pra ‘tirarem o olho que é meu’, se disserem ‘não’ diz ‘vocês não sabem o que estão perdendo’)
prontinho... Já estou bem cheinho,
e o livro, coitadinho... Está sem nome…
E cheio de buraquinhos... Há, há, há…
(vai crescendo lentamente a música da escritora que é um dos contadores que se caracterizou com os elementos de figurino retirados da caixa).
Traça: Ops... Lá vem a escritora!
E se ela me pegar comendo os seus livros,
vai ser um horror!
Vai me dar uma chinelada
e eu vou para casa cheio de dor…
Então, vou embora em paz,
amanhã bem cedinho eu volto e como mais!
(entra a Ceci/Monteiro)
Escritora: Há! Aquela traça esteve aqui de novo?
Já não aguento mais! Ela come os meus livros todos…
Que livro ela comeu desta vez?
(se for possível, desenvolve-se jogo com as crianças, esse? Não? Então foi esse? E o jogo segue até a descoberta do nome do livro, se for preciso a escritora pode contar um pedacinho da história).
Pronto. Agora que já concertei o livro vou trabalhar... Vocês sabem qual é o meu trabalho?
(trecho para a fixação e entendimento do papel da escritora)
Agora eu vou escrever uma novinha em folha, vocês me ajudam? A História vai se chamar: ‘O Sapo e a Donzela’...
(começa a escrever) Era uma vez uma linda donzela… Ela tinha cabelos longos, um vestido…
(enquanto a escritora descreve o fantoche da donzela, por trás de um biombo, se vê sua sombra se “materializando” – o que acontecerá também para os demais personagens, a escritora vai falando mais baixo enquanto a música de ‘conto de fadas’ vai aumentando até que é cortada para a fala da Donzela).
Donzela: Ó Que dia lindo, Hoje estou tão feliz.
Escritora: E ela estava à espera de seu príncipe encantado, um rapaz forte, alto e valente, que usava um chapéu... (segue descrição e sombra).
(Entra o Príncipe).
Príncipe: Ó Linda donzela que vive em MEU reinado, venho aqui para lhe dizer que estou apaixonado, e que só serei feliz quando contigo estiver casado.
Donzela: Ó meu príncipe, para sempre vou te amar, e também serei feliz, se contigo me casar.
Escritora: E os dois realmente estavam muito apaixonados, então resolveram marcar a data do casamento!
(cantando)
Ambos: Nós nos gostamos, então vamos cantar.
Príncipe: Vou correndo ao castelo para tudo preparar.
Ambos: Nós nos gostamos, então vamos cantar.
Donzela: Vou estar lá às dez horas para com você casar.
Ambos: Nós nos gostamos, então vamos cantar.
Ambos: Amanhã cedo cedinho, nós dois vamos nos casar.
Escritora: O príncipe saiu em direção ao castelo e a donzela foi se arrumar para o casamento…
Esta história está ficando boa não é?... Pois é, eu vou ali tomar um café e daqui a pouco eu continuo... até já.
(entra a música da traça, e lá vem ela, procurando algum livro e cantarolando a música ”meu lanchinho”)
Traça: Meu lanchinho, meu lanchinho,
vou comer, vou comer (gritando),
pra ficar fortinho, pra ficar fortinho,
e crescer, e crescer (quase como numa ópera).
Chegou a hora de comer mais um livrinho, deixa-me ver (procura e encontra o novo livro da Ceci, lê o título ironizando e de forma semelhante lê a história até o final)
Era uma vez uma donzela, blá blá blá, que vai casar com um príncipe sem graça e blá blá blá… Este livro nem está completo! Que chatice, e que historinha mais sem graça, já até sei o que vai acontecer: eles se casam e são felizes para sempre... Que emocionante (irônica, na sequência come pedaço do livro. Enquanto come, a música da Escritora vai aumentando)
Nossa! Eu acho que a escritora está voltando
então eu vou mandando…
Escritora: Volte aqui sua traça encrenqueira!
Pare de comer meus livros!
Não estou de brincadeira! Venha aqui falar comigo…
Amiguinhos, ela comeu algum livro?
(jogo, qual?, vocês lembram qual era o nome dele?)
Bem... da próxima vez ela não me escapa! Agora deixe-me voltar a escrever: O Sapo e a Donzela... Então, o Príncipe estava voltando para o castelo feliz da vida com seu casamento, mas havia uma bruxa floresta que era muito malvada e estava bolando uma maldade só para não permitir que os dois se casassem (surge a bruxa de repente assustando até mesmo a escritora).
Bruxa: Há! Eles não me convidaram
para o seu casamento
e agora por vingança
vou fazer um encantamento
não vou deixar que se casem
e vivam com tanta alegria
vou dar uma olhada no meu livro
e fazer uma feitiçaria! Há, há, há, há, há!
Escritora: A bruxa vai precisar de ajuda... Qual vai ser o bichinho de estimação dela?... Um gatinho? Um cachorro (desenvolve-se jogo), um monstro bem feioso e malvado!
Bruxa: Vou precisar de ajuda
para o feitiço preparar
Monstrinho!
Monstrinho! (entra o Monstrinho)
Monstrinho: A senhora me chamou?
Em que posso lhe ajudar?
Bruxa: Vá pegando os ingredientes
e jogando no caldeirão
2 ratos e uma barata
lama do ribeirão
duas asas de morcego
e uma bala de canhão!
Prontinho, agora é só dizer a palavra mágica
e estará pronta a poção.
(ela vai falando pausadamente e ele vai fazendo movimentos indicando que está cumprindo as tarefas com muita preguiça)
Monstrinho: Posso lhe perguntar
o que faz essa poção?
uma maçã envenenada?
ou um gigante bem fortão?
Bruxa: quando a palavra mágica eu disser
surgirá um enorme Dragão
com olhos enormes e vermelhos
que cospe fogo no chão
e vai pegar a donzela
e trancar numa prisão!
(a sombra do Dragão a esta altura já está materializada no biombo)
Escritora: Qual vai ser a palavra mágica que a bruxa vai dizer para criar o dragão? (possível jogo, abracadabra? Alguém conhece outra?, e a bruxa dirá a palavra que as crianças sugerirem)
Bruxa: Abracadabra! (ou a palavra da platéia)
(entra em cena o Dragão, que é um lagarto feinho, pequenino e sem asas, ele entra voando e desliza pela borda do palquinho)
Dragão: Cheguei!
Bruxa: O que significa isso
você não é um Dragão
pode ser até um filhote
mas sei que forte não é não!
Em que será que eu errei
no preparo da poção?
Chega de conversa,
fora da minha casa seu filhote de dragão!
Dragão: Mas o que foi que eu fiz?
Quando eu crescer serei um Dragão
vou aprender a voar
e cuspir fogo no chão
você me deixa ficar aqui aqui?
Bruxa: NÂÂÂÂÂOOOOO!
Escritora: E a bruxa expulsou o Dragãozinho de sua casa, logo depois ela mandou o monstrinho capturar o príncipe com uma rede e levá-lo para sua caverna.
Monstrinho: Eu tenho que fazer tudo! (reclamando com a escritora) Vou esperar o príncipe passar por aqui, e quando ele chegar eu jogo a rede nele e pronto! Não vou ficar procurando coisa nenhuma...
Príncipe: (cantando) Hoje eu vou me casar
parece que estou sonhando
o meu benzinho está
no castelo me esperando!
o meu benzinho está
no castelo me esperando!
(o monstrinho ataca o príncipe, joga-lhe a rede e sai arrastando-o)
Monstrinho: Você não vai se casar
pra caverna vou te levando
pra te entregar à bruxa
que está te esperando!
pra te entregar à bruxa
que está te esperando!
Príncipe: Não! Você não pode fazer isso! Vou me atrasar para meu casamento! Não! Não!
(e o monstrinho continua cantando)
Escritora: É... O príncipe está mesmo encrencado! Mas eu estou tão cansada... Que eu acho que vou... (Ceci dorme e ronca bem alto, entra a traça).
Traça: Olá pessoal! Nossa! A escritora está dormindo... Que bom, agora posso comer mais um pouquinho…
Ela já terminou a história da Donzela e do Sapo?
(pega o livro e lê rapidamente até o fim)
O que será que vai acontecer com o Príncipe?
Será que eles não vão conseguir se casar?
O que a bruxa vai fazer com ele? (vai se revoltando) Como ele vai se casar se foi preso?
(a traça disse estas últimas palavras tão alto que a escritora acaba acordando)
Escritora: Olá pessoal! Acho que eu cochilei…
Vocês viram a traça por aqui? (a traça está imóvel atrás dela, fingindo ser uma estátua ou uma pintura)
(Onde? – inicia-se o jogo da procura e perseguição, a escritora vai procurando e a traça se esquivando, quando ele olha para trás, se esconde, voltando assim que ele se vira para frente até que ela foge definitivamente).
Escritora: Não agüento mais essa traça... Vou dar um jeito de pegá-la e vai ser agora mesmo…
Ei, ela não comeu nenhum livro... O que ela ficou fazendo aqui?... Há... Então ela está lendo a história que eu estou escrevendo, é isso? Será que ela gosta desta história?
Vamos fazer um teste, eu vou escrever mais um pouco, então vou me esconder, quando ela chegar vocês me avisam e eu pego ela tudo bem?...
Certo então vamos voltar a história:
O monstrinho levou o príncipe até a caverna da bruxa, chegando lá...
Monstrinho: Aqui está patroa! O príncipe preso na rede!
Bruxa: Muito bom meu fiel monstrinho
eu vou lhe recompensar
por você tê-lo capturado
por hoje você já pode ir descansar.
Monstrinho: Oba! Eu estava precisando de uma folga mesmo! Acho que vou jogar videogame!
Príncipe: Mas Bruxa o que eu lhe fiz?
Porque mandou me pegar?
Bruxa: Porque não quero deixar-lhe
livre para se casar!
A Donzela só gosta de você
porque você um príncipe charmoso
pois eu vou transformá-lo em um sapo
Gordo verde e bem feioso!
Abracadabra!!!!! (ou a palavra dada pelas crianças anteriormente)
(fumaça e efeitos, o fantoche do príncipe é trocado pelo do sapo)
Príncipe: Uébé! Uébé! Não pode ser, Uébé! E agora o que vou fazer?
Bruxa: Se você ainda assim
feioso como está
conseguir ir ao castelo
e com a donzela casar
o feitiço se desfaz
e eu é que vou coaxar
Uébé! Uébé!...
mas isso não vai acontecer
porque você não pode voar
e já está muito tarde
de pulinho em pulinho
você nunca vai chegar!
(saindo) Há, há, há, há,há, há!
Príncipe: E agora o que farei?
Alguém pode me ajudar?
Como vou chegar ao castelo
se eu não posso voar?
Tudo o que posso fazer
é chorar e coaxar...
Uébé! (chorinho) Urrurru…
Uébé! Urrurru…
Uébé! Urrurru…
Escritora: Pessoal chegou a hora! (cochichando) Agora eu vou me esconder para pegar a traça de surpresa, depois que ela tiver lido o livro vocês me chamam e eu a pego! Ok?
(Ceci se esconde e lá vem a traça, vai entrando aos poucos pra ver se a Ceci já foi)
Traça: Que bom! A barra está limpa! (corre e lê o livro até o fim. Diz preocupado:) Coitado do príncipe, o que vai acontecer com ele? Será que vai conseguir chegar a tempo ao castelo?
(as crianças chamando ou não a Ceci a traça se irrita com elas como se elas estivessem chamando)
Traça: Shiuuuu! Meu nome não é Ceci, é Traça! Ei menino, pra que tanto barulho? Já falei que meu nome não é Ceci!
Escritora: (de surpresa) Peguei!... Agora você vai ter de me explicar porque gosta tanto de destruir os meu livros!
Traça: É que eles são todos iguais... Chatos e eu não gosto deles...
Escritora: Como assim você não gosta? Você não está aí, todo preocupado com o que vai acontecer com o príncipe?
Traça: Mas este livro é diferente! Desta história eu gostei! Me diz, o que vai acontecer com o príncipe?
Escritora: Se você continuar a comer os livros eu não vou mais escrever... O príncipe será um sapo para sempre!
Traça: Não! Você não pode fazer isso com ele... Tudo bem... Eu paro de comer ESTE livro... Só vou comer os outros!
Escritora: Então nós não temos um acordo!
Me diz porque você vai comer os outros livros?
Traça: Porque dos outros eu não gosto, só gosto deste que você está escrevendo.
Escritora: Você já leu algum dos outros?
Traça: Não! Só os títulos, os nomes...
Escritora: Então está explicado! Se você não os leu, não tem como gostar deles, mas eu vou lhe contar uma coisa, eles tem histórias tão boas quanto esta que eu estou escrevendo!
Traça: Sério?
Escritora: Muito sério, (ela pega alguns livros e diz brevemente sobre o que é cada história e a traça vai ficando empolgada) e se você os comer, nem você, nem ninguém poderá lê-los...
Traça: Entendi... Tudo bem então... Eu não comerei mais nenhum livro! (falando à platéia) Afinal, no seu guarda roupas também há um monte de tecidos deliciosos! hehehe… (A Ceci olha feio, ela vai desconversando) Mas me diga, o que vai acontecer com o príncipe?
Escritora: Eu vou escrever o final da história então... Você me ajuda?
Traça: Sim! Claro!
Escritora: E vocês? Me ajudam? Então vamos lá:
O príncipe estava sozinho, triste e transformado em sapo pulando pela floresta...
Príncipe: E agora o que farei?
Alguém pode me ajudar?
Como vou chegar ao castelo
se eu não posso voar?
Tudo o que posso fazer
é chorar e coaxar…
Uébé! Urrurru... Uébé! Urrurru...
Escritora: E sabem quem apareceu para ajudar o príncipe?
Traça: Uma fada?
Escritora: Não... As fadas estavam muito ocupadas, e além disso, as fadas tem medo de sapo...
Traça: Um gênio igual ao do Aladim?
Escritora: Não! Essa história não é no deserto, quem apareceu foi o Dragãozinho que a bruxa expulsou de casa!
Dragão: Olá amiguinho sapo, porque você está chorando?
Príncipe: Porque eu sou um príncipe e uma bruxa malvada acabou me transformando neste sapo feio e gordo que só vive coaxando…
E eu só voltaria ao normal se pudesse sair voando e chegar hoje ao castelo, assim então me casando, mas como não sei voar só posso ficar chorando…
Uébé! Urrurru... Uébé! Urrurru...
Dragão: Pois essa mesma bruxa foi que um dia me criou e de dentro de sua casa a bruxa me expulsou só porque eu sou um filhote ela não me aceitou.
Mas os pássaros da floresta me ensinaram a voar, eu ainda não voo bem, mas quero te ajudar! Suba nas minhas costas que para o castelo vou te levar!
Príncipe: Obrigado amiguinho! Isso eu nunca vou esquecer você será guardião do castelo quando crescer e vai poder morar lá por todo tempo em que viver!
Escritora: E eles voaram bem alto em direção ao castelo, o dragãozinho levava o príncipe bem rápido enquanto a Donzela estava esperando triste e já desiludida.
Donzela: Onde estará o meu amor
que prometeu aqui me encontrar?
Será que ele desistiu
de comigo se casar?
Ou será que aconteceu algo
que o fez se atrasar?
Mas o que é aquilo? É um pássaro? É um avião?!!
Príncipe: (príncipe gritando) Dragãozinho!!! Cuidado com a direção!!!!!
(dragãozinho num voo cheio de zigzags faz um pouso forçado)
Donzela: Socorro! Um dragão! (corre assustada mas se dá conta de que é um dragão pequeno e se aproxima)
Que dragãozinho pequenino… E que fofinho... (O sapo pula na direção dela) Um sapo! Ai que medo!...
(a donzela corre para um lado, o príncipe para outro, ela grita e “esperneia” até que...).
Príncipe: Sou eu minha querida, a bruxa me transformou, roubando minha beleza, agora esse sapo eu sou...
Dragão: É verdade princesa! A bruxa que vive na caverna na floresta o transformou em sapo, ela é muito malvada e ele só poderá voltar ao normal, se você se casar com ele...
(de repente surge a bruxa)
Bruxa: Fora daqui seu Dragão intrometido! (O dragão sai correndo) E quanto a você príncipe... Vai ser um sapo para sempre! Ou você acha que a Donzela vai querer se casar com um sapo feio deste jeito!
Donzela: Pois você está enganada, ele não é um sapo feio... Ele é o meu príncipe encantado! Pra falar a verdade ele ficou até mais bonito assim...
(Donzela beija o sapo, muita fumaça e luz, e o príncipe volta ao normal, enquanto a bruxa...)
Escritora: E a donzela beijou o sapo e o feitiço se desfez, a Bruxa, por outro lado, foi quem se deu mal dessa vez...
Bruxa: Uébé!
Vocês não podem ter conseguido!
Uébé! Uébé! Uébé! Uébé!
(o mesmo fantoche do sapo, agora com chapéu de bruxa, atravessa o palquinho aos pulinhos)
Traça: E o que aconteceu depois?
Escritora: O Príncipe e a Donzela se casaram e foram muito felizes…
(entram o príncipe e a donzela cantando)
Ambos: Nós nos gostamos por isso nos casamos
/ nós nos gostamos por isso nos casamos!
Traça: E com o Dragão? O que aconteceu com o dragão?
Escritora: O Dragão cresceu e ficou muito forte e virou guardião do castelo, mas isso foi depois de muito treinamento!
(entram o dragão e o príncipe)
Príncipe: Tudo bem dragãozinho, vamos tentar outra vez, se você se esforçar consegue soltar fogo pelo nariz...
Dragão: Tá certo, vou me esforçar, dessa vez vai…
(faz o som como se fosse espirrar)
Ahhh…. Ahhhhhhhh…. Ahhhhhhhhh Tchim!
(som de peido)
Deu certo? Deu certo? Saiu foguinho?
Príncipe: Quase, quase… Vamos continuar tentando meu amiguinho… Vamos continuar tentando… (saem)
Traça: E a bruxa?
Escritora: O monstrinho deu um beijo na Bruxa e eles se casaram e foram muito felizes...
(de repente entra em cena o monstrinho com a bruxa atrás)
Monstrinho: Eu? Beijar a Bruxa?
Você está ficando maluca!
Beije você se quiser!
Eu não sou pago pra isso! Aí já é demais!
Bruxa: Monstrinho! Venha aqui monstrinho meu querido! Uébé! Uébé! Uébé!
(saem de cena)
Escritora: (se descaracterizando) E sabem o que aconteceu com a traça? Ela leu muitos outros livros.
Cantar pra fechar
(os outros contadores vão entrando)
Contador 2: E assim ela aprendeu a cuidar bem dos livros, e descobriu que eles são muito divertidos.
Desenvolve-se jogo em cima do tema ‘leitura’ perguntando às crianças o que acharam da história que acabaram de ver e quais outras histórias elas conhecem. Aqui trabalha-se a ideia de que todos são contadores de histórias. Para fechar entra uma cantiga onde ao final os próprios contadores puxam os aplausos e encerram o espetáculo.
Fim